domingo, 26 de abril de 2009

TODO DIA É DIA DE ÍNDIO



No dia 19 de abril no Brasil comemoramos uma data especial, o dia do índio. Por muitos anos essa data passou por mim de forma despercebida, era apenas mais um feriado, um dia sem aula, o qual eu ficaria fazendo algo bastante improdutivo, passando os canais da TV! Esse ano foi diferente, completamente diferente.

Há algum tempo venho me interessando mais e mais por me aproximar dos povos indígenas, de conhecê-los. Interesse que aumentou ao começar a fazer parte de um grupo de pesquisa que estuda o direito, a identidade e o multiculturalismo (PEDIM), na faculdade em qual curso Direito. Com o contato com textos e pessoas que os conhecem e admiram sua diversidade, seu modo de vida, a vontade só aumentou.

Finalmente entre os dias 14 e 17 de abril, tive meu primeiro contato direto com os índios, ocorreu em São Luís a Semana dos Povos Indígenas no Maranhão, na qual participei como voluntária na organização (expus no post anterior sua finalidade e programação). Nela iniciei um laço de amizade com Aline Pompeu, índia Guajajara, que em nossas conversas me fez conhecer um pouco de sua cultura, infelizmente não pude participar de todas as mesas redondas (participei só de uma).

O que aprendi? Que um o preconceito pode estar escondido em um pequeno gesto, um simples, “e índio faz isso?”, pode ser tão ofensivo quanto um, “índio é bicho preguiçoso”. Podemos por a culpa em nossa educação que peca significadamente em nos oferecer dados históricos dos primeiros habitantes de nosso país, bem como daqueles que foram trazidos para cá a força, os negros. No entanto, isso não explica a estranheza que lhes é dirigida, os adjetivos maldosos e longe de serem ingênuos, não explica a falta de humanidade como em alguns casos, ou muitos casos, são tratados nos dias de hoje.

Humanidade, humano, ser humano, homo sapiens, ser pessoa, ser gente, o que significa? O que faz alguns classificarem seres humanos como inferiores ou superiores? Por que isso? Não somos todos SERES HUMANOS? Sim, somos. Haaaa... mas tem um detalhe, não somos pertencentes da mesma cultura, pertencemos a realidades diferentes, eu não sou igual culturalmente ao um russo, ao um americano, longe disso. Realmente, a forma como os índios desse país vivem é diferente, os costumes são diferentes, a língua é diferente. Mas somos todos seres humanos, que possuem sentimentos, que são amados por alguém, que amam alguém, que vivem e convivem.

Convivência, a arte de conviver entre pessoas que nem sempre irão de acordo com o que você pensa, o que você acredita que é certo. Aceitar ser diferente culturalmente de outras pessoas, e procurar conviver de uma forma respeitosa, nem sempre ambos irão concordar, mas se houver espaço para o diálogo, já é um passo enorme.

Essa diferença cultural é a explicação para os índios terem sido quase dizimados do nosso mundo, de terem sidos escravizados, acorrentados, torturados? O fato de um Europeu trancado em seu castelo, possuindo uma mente tão fechada e com os olhos voltados somente pro seu umbigo, ter se proclamado como civilizado? Que o seu modelo de civilização deveria ser imposto aos outros, pois seu modelo era/é bom?

O que assistimos, e infelizmente ainda vemos, foi um etnocídio, um genocídio cultural, quando o “eu” veio e impôs sua cultura ao “outro”, por considerá-lo inferior. O “eu” olha o outro como diminuído, ver suas práticas culturais como deprimentes, ridículas, inferiores, imorais, acredita que sua cultura é referência para a humanidade. Chagam armados com armas de fogo, facas ou com um livro que contém a fala de apenas um homem, escrito a séculos e que interpretado da forma errada, é capaz de provocar verdadeiros desastres.

A luta pela sobrevivência, a luta pelo direito de ser índio, foi isso que me impressionou na semana. A luta pelo direito de viver sua vida da forma como foi criado, de ter um lugar pra viver, o direito a comida, à alimentação, o ORGULHO de bater no peito e dizer “EU SOU ÍNDIO (A) E TENHO ORGULHO DISSO”, negar a etiqueta de “outro” e dizer que também é brasileiro, é cidadão desse país e que merece ser respeitado com tal, e que faz parte desse mundo. Esse foi o meu saldo, meu aprendizado e minhas reflexões nos dias que se passaram, que me levaram a uma conclusão: TODO DIA É DIA DE ÍNDIO.


Arte: Aline Pompeu\ Etnia: Guajajara

terça-feira, 7 de abril de 2009

Semana dos Povos Indígenas no Maranhão 2009

Trago aqui a divulgação da Semana dos Povos Indígenas no Maranhão 2009, bem como a descrição do evento. Para acomapanhar o andamento da semana acessem http://www.marcushistorico.blogspot.com/



A realização deste evento em 2007 e 2008 obteve uma avaliação positiva por parte de seus realizadores, contribuindo para proporcionar uma visão positiva da sociedade maranhense em relação aos povos indígenas. Esta terceira edição da Semana objetiva ser um evento político cultural, no qual os indígenas serão os principais protagonistas. Estes irão expor sobre suas práticas sócio-culturais, demonstrando sua cosmovisão; mitologias; rituais; cerimônias e suas formas de conviver com o mundo natural e espiritual.

Durante a Semana acontecerá uma série de atividades de divulgação da riqueza e da diversidade cultural dos povos indígenas tais como: mostra de vídeos etnográficos; exposições de fotografias; oficinas temáticas de pintura corporal; cantos; mitos e língua; mesas redondas; feira de artesanato e exposição de acervo arqueológico; material etnográfico e material didático indígena.

A Semana dos Povos Indígenas no Maranhão 2009 tem como objetivo central possibilitar e estimular junto à comunidade maranhense e brasileira, de modo geral, a discussão sobre a identidade cultural dos povos indígenas.

A Semana pretende, ainda, aumentar a visibilidade dos povos indígenas diante do Estado e da sociedade maranhense, pela valorização de suas expressões culturais materiais e imateriais e pela sua livre expressão enquanto agentes sujeitos de sua história.

Assim, seguindo a dinâmica dos eventos anteriores, a Semana dos Povos Indígenas no Maranhão 2009 será formada por diferentes eventos, que possibilitem contemplar esses objetivos. Serão realizadas Mesas Redondas, com a participação de representantes das etnias que falarão sobre alguns de seus principais rituais; mídia e cinema; educação e desenvolvimento sustentável.

Serão apresentados, ainda, trabalhos acadêmicos e não-acadêmicos em sessões especiais; Oficinas Temáticas ministradas por representantes dos diferentes povos indígenas no Maranhão abordando temas como as mitologias, cânticos, histórias e tradições orais, línguas indígenas, artesanato e outros.

Durante a Semana dos Povos Indígenas no Maranhão serão realizadas, ainda, mostra arqueológica, arte, artesanato e material didático produzido pelos professores indígenas enfocando a cultura material e a educação dos povos indígenas no Maranhão, com a apresentação de objetos utilitários e cerimoniais do acervo etnográfico do CPHNAM, exposições fotográficas e mostra de filmes e vídeos etnográficos sobre as culturas indígenas no Maranhão e em outras regiões do Brasil. Compõe ainda essa Semana, apresentações de danças e cânticos indígenas, como forma de valorização dessas manifestações pelo Estado e sociedade maranhense.


ATIVIDADES PREVISTAS

MESA DE ABERTURA: Abertura solene que contará com a presença, do Exmo. Sr. Governador do Estado, de representantes das secretarias de Estado envolvidas, das agências, instituições indigenistas e de representantes dos povos indígenas no Maranhão.

  • Jackson Kepler Lago – Governador do Estado
  • João Batista Ribeiro – Secretário de Cultura
  • Lourenço Vieira da Silva – Secretário de Educação
  • Cláudia Cristhina Lobo – Administradora Regional da FUNAI – São Luís
  • Deusdédit Carneiro Leite – Diretor do Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão
  • Sônia Bone Guajajara – Liderança da COAPIMA

CONFERÊNCIA DE ABERTURA: Jecinaldo Barbosa – Coordenador Geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia BrasileiraCOIAB e liderança do povo Sateré Maué – Amazonas

  • Apresentação Cultural (Guajajara da região do Pindaré e Amarante), lançamento do livro sobre os índios do Maranhão e apresentação do vídeo sobre a semana dos povos indígenas 2008; Coquetel.

Local e Data: 14 de Abril – Teatro “Alcione Nazaré” - Centro de Criatividade “Odylo Costa, filho” – Horário: 19:00 Horas.

MESAS REDONDAS:

Serão realizas sessões temáticas abordando diferentes aspectos sociais culturais políticos e simbólicos dos povos indígenas. Participarão dessas Mesas representantes dos povos indígenas, de organizações não-governamentais atuantes nesses campos específicos, representantes de associações e outras organizações indígenas a nível local e regional.

MR 1 - Ritos de Passagem: o Ketwayê dos Rankokamekra – Canela

Participantes Convidados:

  • Francisquinho Tep Hot – Aldeia Escalvado
  • Raimundo Nonato Koiré – Aldeia Escalvado
  • Marinaldo Kenikum – Cantor – Aldeia Escalvado

Moderadora: Rose Panet – Antropóloga – Doutoranda em co-tutela entre a Ecole Pratique des Hautes Etudes/FR e a UFMA

Local e Data: 15 de Abril - Teatro “Alcione Nazaré” - Centro de Criatividade “Odylo Costa, filho” – Horário: 8:30 às 12:00 Horas.

MR 2 - Ritos de Passagem: a Festa da Menina Moça dos Tenehara – Guajajara

Participantes Convidados:

  • Maria Santana Guajajara – Parteira e liderança da Terra Indígena Arariboia
  • Cíntia Santana da Silva – Professora Bilíngüe Guajajara – Aldeia Lagoa Quieta
  • Francisco Paulino Guajajara – Cacique da Aldeia Lagoa Comprida

Moderador: João Damasceno Jr. – Coordenador do Setor de Etnologia e Museologia do Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão.

Local e Data: 15 de Abril - Teatro “Alcione Nazaré” - Centro de Criatividade “Odylo Costa, filho” – Horário: 14:00 às 17:00 Horas.

MR 3 – Movimento Indígena Nacional.

Participantes Convidados:

  • Sônia Guajajara – Secretária Geral da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão - COAPIMA e liderança do povo Guajajara – Maranhão.
  • Romancil Cretã Kaingang - Coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Sul - ARPIN e liderança do povo Kaingang – Santa Catarina
  • Uilton Tuxá - membro da Comissão Executiva da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo - APOINME
  • Gersen Baniwa - Professor e antropólogo. Conselheiro do Conselho Nacional de Educação e Diretor do Centro Indígena de Estudos e Pesquisas é liderança do povo baniwa do Alto Rio Negro - Amazonas.

Local e Data: 16 de Abril - Teatro “Alcione Nazaré” - Centro de Criatividade “Odylo Costa, filho” – Horário: 8:30 às 12:00 Horas.

MR 4 - “Escola Krikati e a luta por uma educação diferenciada”.

Participantes Convidados:

  • Silvia Cristina Puxcwyj Krikati – Coordenadora da escola – Aldeia São José

· Lourenço Krikati – Membro da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão – COAPIMA.

  • Edilena Torino Krikati - Professora – Aldeia São José

Moderador: Gersen Baniwa - Membro do Conselho Nacional de Educação e Diretor do Centro Indígena de Estudos e Pesquisas e liderança baniwa do Alto Rio Negro - Amazonas.

Local e Data: 16 de Abril – Teatro “Alcione Nazaré” - Centro de Criatividade “Odylo Costa, filho” – Horário: 14 às 17 Horas.

MR 5 - “Mídia, Cinema e Fotografia entre os Povos Indígenas”.

Participantes Convidados:

  • Jair Krikati – Festa do Gavião - Aldeia São José
  • Agnelo Temrité Wadzatsé – Representante da COIAB – Conselho das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira e liderança Xavante - Mato Grosso.
  • Rose Panet – Antropóloga – Doutoranda em co-tutela entre a Ecole Pratique des Hautes Etudes/FR e a UFMA
  • Murilo Santos – Cineasta e Professor da Universidade Federal do Maranhão
  • Moderador: Cláudio Zanonni – Professor do Departamento de (UFMA)

Exibição do filme: Massacre de Alto Alegre

Local e Data: 17 de Abril – Teatro “Alcione Nazaré” - Centro de Criatividade “Odylo Costa, filho” – Horário: 8:30 às 12:00 Horas.

MR 5 – “Terras Indígenas, Meio Ambiente e Etnodesenvolvimento”

Participantes Convidados:

  • Valdemar Ka’apor – Terra Indígena Alto Turiaçu
  • Jonas Gavião – Associação Wyty Cate dos Povos Timbira do Maranhão e Tocantins
  • Kleber Karipuna – Secretário-executivo da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia BrasileiraCOIAB - Amapá
  • Representante da Fundação Nacional do Índio (FUNAI)
  • Representante do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA)
  • Gersen Baniwa - Professor e antropólogo. Conselheiro do Conselho Nacional de Educação e Diretor do Centro Indígena de Estudos e Pesquisas é liderança do povo baniwa do Alto Rio Negro - Amazonas.

Moderadora: Profª Drª Maria Elizabeth Coelho – Mestrado em Ciências Sociais - UFMA

Local e Data: 17 de Abril – Teatro “Alcione Nazaré” (CCOCf) – 14 às 17 Horas.

3.4 PAINÉIS E OFICINAS TEMÁTICAS

a) Apresentação de Trabalhos Acadêmicos e Aplicados:

Participantes: Professores, Graduados e Pós-graduados; Técnicos de Instituições Indigenistas (FUNAI, FUNASA, SEDUC, etc); Alunos concludentes; Representantes de ONGs e Associações; Representantes Indígenas e outros apresentarão trabalhos acadêmicos (Teses, Dissertações e Monografias, resultados de pesquisa; projetos aplicados) sobre temas relacionados aos povos indígenas no Maranhão e Brasil. Após cada ciclo de apresentações será promovido debates junto aos presentes.

Local e Data: Dias 16 e 17 de Abril/2008. Sala de Multimídia (CCOCf)

Horário: 14 às 17 Horas.

b) Oficinas Temáticas: Representantes dos diversos grupos indígenas no Maranhão ministrarão oficinas sobre elementos de cultura imaterial (cantos, danças, mitos, línguas) e de cultura material (adornos corporais, artesanato, instrumentos musicais e utensílios) desses povos. Aberto aos interessados.

Local e Data: Dias 16 e 17 de Abril – Instalações do CCOCf –

Horário: 9 às 11:30 Horas.

· 16 de Abril, Sala de Pinturas - Oficina de pintura corporal, ministrada pelos Guajajara, com o apoio do Departamento de Artes da UFMA.

· 16 de Abril, Sala de Multimídia – Oficina de Mitos, Cantos e Danças dos Canela, que recepcionarão o público e contarão historias tradicionais de seu povo (apresentação de instrumentos musicais).

· 16 de Abril, Sala de Danças – Oficina de Mitos, Cantos e Danças dos Ka’apor que recepcionarão o público e contarão historias tradicionais de seu povo (apresentação de instrumentos musicais).

· 17 de Abril, Sala de Pinturas - Oficina de pintura corporal, ministrada pelos Canela, com o apoio do Departamento de Artes da UFMA.

· 17 de Abril, Sala Multimídia – Oficina de Mitos, Cantos e Danças dos Krikati que recepcionarão o público e contarão historias tradicionais de seu povo (apresentação de instrumentos musicais).

· 17 de Abril, Sala de Danças – Oficina de Mitos, Cantos e Danças dos Guajajara que recepcionarão o público e contarão historias tradicionais de seu povo (apresentação de instrumentos musicais).


EXPOSIÇÕES e MOSTRAS

a) Exposição “Cultura Material da Pré - História do Maranhão”

Mostra de peças do Acervo do CPHNAM contendo artefatos cerâmicos, líticos dos povos pré-históricos do Maranhão.

Local: Galeria do CCOCf. – Período: 15 a 21 de Abril.

b) Exposição “Arte Indígena no Maranhão”

Mostra que reunirá acervo da cultura material contemporânea dos diversos povos.

Local: Galeria do CCOCf. – Período: 15 a 21 de Abril.

c) Exposição: O Cotidiano e o Ritual entre os Povos Indígenas no Maranhão.

Exposição que reúne painéis fotográficos de diversos autores, tiradas no dia a dia e nos momentos rituais das mais diferentes Terras Indígenas.

Local: Galeria do CCOCf – Período: 15 a 21 de Abril.

d) Mostra de Vídeos: “Curtas Nômades”

A mostra apresentará documentários etnográficos de produção local e nacional e percorrerá diversos espaços tais como: escolas de ensino médio e universidades.

Locais: Cine Praia Grande; Escolas e Universidades – Período: 15 a 17 de Abril de 2008.

e) Feira “Arte e Artesanato Indígena”

Feira de artesanato elaborado com as mais diversas matérias primas, contendo colares, pulseiras, brincos, maracás, cestos, bolsas, saiotes, redes, arco e flecha.

Local: Praia Grande - Período: 15 a 17 de Abril de 2008.

APRESENTAÇÃO DE CANTOS, DANÇAS AO SOM DE INSTRUMENTOS MUSICAIS INDÍGENAS.

Serão apresentados Cantos e Danças de diferentes culturas indígenas no Maranhão: Tenetehara (Guajajara); Timbira (Canela; Krikati; Pukobyê; Krepum); Kaapor.

Local: Saguão do CCOCf e Anfiteatro - Dias 15, 16 e 17 de Abril – 17 às 19 Horas.